Inerme

Caro tempo que me arrasta,  

Você que leva o que resta,  

Me pergunto: será justa  

Essa dor que nunca cessa?


Caminhei com sonhos leves,  

Pés cansados de insistir,  

Mas o chão que se desfaz  

Só me impede de seguir.


Confiei no que é humano,  

Na bondade do olhar,  

Mas só vejo a face fria,  

Almas vazias a me afastar.


O sol, que eu tanto esperava,  

Foge sempre ao amanhecer.  

Se é de nuvens que se veste,  

Como posso renascer?


Coração, já tão cansado,  

Busca um lume onde pousar,  

E se engana em qualquer chama  

Só pra não mais se queimar.


As memórias, teimosas ficam,  

Me falam do que já não há,  

Cicatrizes me afogam,  

E a saudade vem dançar.


Me diz, vida, como é feito  

Esse fim de tanto espinho?  

Se quem sofre encontra o leito,  

É por cansaço ou por carinho?


Não sei mais o que se segue,  

Nem o que restou de mim,  

Só desejo que um dia  

O sol brilhe até o fim.

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