Ela tem 30



Ela tem 30 anos. Ou 30 e poucos. Ou 20 e muitos. Não dá pra saber ao certo. Ela tem uma energia que irradia, um sorriso que exala juventude, mas uma profundidade de quem tem bagagem - e não é uma mochilinha qualquer.

Ela tem um marido. Ou um ex. Ela fala com tanta paixão que é difícil saber se é alguém presente, ou que já passou ou se é apenas maturidade suficiente pra ter um ex-amor guardado com tanto carinho.

Ela se ama. E não é pouco. Mas sua geração foi tão entremeada pelo machismo que ela cisma que aquela barriguinha está marcando na roupa - e se incomoda. Por ter crescido, buscado informação, e estar finalmente entendendo e fazendo parte - de alguma forma - de um movimento tão importante para as mulheres, entra em conflito: "Afinal, por que caralhos eu estou me incomodando com essa porra dessa barriga saindo da calça?" E logo sai pra tomar uma cerveja com as amigas porque, afinal, essa pança não chegou lá sozinha.

Ela entende hoje que cada marca sua tem história. Principalmente as que estão chegando e ficam bem aparentes na luz do sol - porque a gente sabe que é na luz do sol e do elevador que nossa total expressão é exposta. E quanto mais ela respeita as marcas que surgem a cada gargalhada, com mais respeito ela enxerga as marcas de outras mulheres.

Aos 30 ela julga menos e sente mais. O que era pesado e tenso, cria uma leveza que só mesmo depois dos turbulentos 20 e poucos anos é que a gente desenvolve. Sexo então, que maravilha de evolução! Porque sexo bom não é sobre o parceiro, é sobre se conhecer, e se conhecer direito. E por que não aprender a guiar o parceiro(a)?

Ela é independente e banca essa escolha muito bem. Isso não significa que não tenha noites solitárias, cheia de questionamentos, em que não aguenta nem sua sombra. Mas ela sabe que o sol nasce todos os dias. Todos. E isso dá força e conforta.

Ela pode ser mãe. Ou não. Hoje, ela sabe que isso é uma escolha e não uma imposição, e por isso desromantizou a ideia da maternidade e enxerga cada mãe do seu convívio com uma admiração imensa.

Ela tem mapeado na sua cabeça muito bem em quem confiar, mas nem por isso fecha as portas. Já viveu relações suficientes pra saber que até na fila do super-mercado encontra-se "amigos de infância" trocando informações de rótulos de vinho.

O coração dela parece boneca de pano ou vestido de festa junina. Puro remendo. Mas nada que o impeça de bater feito escola de samba quando aquela paixão avassaladora chegar. E que ele sangre rios quando o amor for embora. E que ele reanime quando um choque de vida vier te arrebatar de novo. Porque ela sabe que não existe um só amor na vida. Existem amores únicos. E ela sabe que todos eles valem a pena.

Ela sabe bem o que gosta, mas não há medo algum de mudar de ideia, de cabelo, ou país. O frescor e ousadia dos 20 e poucos ficam, mas a maturidade faz o filtro.

E até quem a conhece bem sabe. Depois dos 30 ela não é mais a mesma. Nem você. Ainda bem.

Por Paola Príncipe

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