Eu sempre fui dessas que não ficam paradas no ponto. Acabava
um relacionamento e logo saía para viver com um desejo de liberdade de um
ex-presidiário. Como tudo na minha vida, aliás. Uma sede tão desesperada pelas
coisas que só me deixou claro uma constatação: a desesperada era eu.
Desesperada em saber quem eu era, buscava a resposta do lado
de fora. Sempre disposta e aberta às novidades que a vida me trouxesse. E isso
valia desde paixões, viagens, amigos, noitadas, rótulos de cerveja, até os
sabores de tapioca da vez. Queria experimentar tudo que estivesse ao meu
dispor.
Vivi tanto do lado de fora, que esqueci de olhar para
dentro. Pra dentro de casa mesmo. Larguei vestígios do meu último
relacionamento que acabou há mais de ano por todos os cantos da casa e eu,
ocupada com a vida que urgia pela janela, não percebi.
Comprei quadros e não pendurei. Descuidei da única planta
que tinha em casa que, obviamente, morreu. E até a geladeira que sempre tinha
uma comidinha gostosa feita por mim, era só água, cerveja e energéticos.
Eu havia me tornado uma menina idiota. Um tipo clichê, que sempre fiz questão de apontar o dedo e
julgar, agora me encarava no espelho com certa ironia no olhar.
Precisei me desconstruir e deixar a marola derrubar meu
castelinho de areia. Dei um tempo de pessoas vazias, de obrigações
desnecessárias, ponderei os erros, notei os acertos, e usei de todas as
experiências vividas para fazer um balanço honesto com a pessoa que eu
pretendia ser – e não conseguia nessas tentativas frustradas de ser alguém.
Nos últimos meses, me encarei todos os dias no espelho e,
pouco a pouco, aquela menina idiota foi desaparecendo do reflexo. Agora ela
cantava alto no chuveiro, se permitia chorar quando precisava e aprendeu a
levantar a cabeça depois de um dia difícil. Para se conhecer de verdade, é
preciso se enfrentar sem medo.
Descobri que sou mais inconveniente do que achava, tenho
mais orgulho do que desejava, menos paciência, e me sinto mais amada do que
antes supunha. Tenho mais amigos do que tempo – e isso é uma coisa boa.
Descobri que eu gosto é de tapioca de queijo, que falo pelos cotovelos e que, sim, sou meio bagunceira. Prefiro
gente simples, MacBook ao meu velho Samsung, cerveja no boteco a champagne no Fasano, amigos que me liguem só pra dizer que estão
com saudades, e um amor que me aceite assim – bem desse jeito mesmo.
E foi só quando eu me descobri que o tal de amor me encontrou.
E foi só quando eu me descobri que o tal de amor me encontrou.
Por Paola Príncipe
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