Sabe aquele dia em que parece que o mundo está conspirando
contra você? Aquele dia em que você, atrasada para o trabalho, sai correndo e
esquece o guarda-chuva. E chove. E o ônibus passa em alta velocidade e te molha
toda. E toda molhada – e atrasada – ainda toma esporro do chefe. Essa é a minha
vida.
Todo dia existe a possibilidade de alguma coisa dar errado.
Comigo, elas sempre dão. Não é que coisas terríveis aconteçam a minha volta.
São apenas pequenos azares que fazem parte do meu cotidiano. Eu posso acordar
num puta bom humor que na esquina do caminho para o trabalho vai ter um
cachorrinho abandonado que vai me fazer chorar e me sentir uma bosta por não
conseguir ajudar todos os bichinhos do mundo.
Outro dia, no meu usual bom humor pós-corrida matinal,
pensei comigo mesma: hoje nada pode me abalar. E essa sensação durou apenas 20
minutos, quando, ao sair de casa, fiquei presa no elevador. Na mesma semana, fui a praia e ao colocar a
roupa para ir embora, percebi que tinham levado minhas havaianas. Voltei
descalça pra casa – e com sorte: porque não pisei em nada suspeito. E no dia
seguinte, pedi um pão com manteiga na padaria e derrubei metade dele no chão.
E, claro, com a manteiga virada pra baixo – e, agora, com uns cabelinhos nojentos
grudados.
Aliás, não tem muito tempo que, ao correr atrás de um ônibus
atravessando as quatro pistas da Avenida das Américas (são 15 segundos para
atravessar todas elas!), eu me estabaquei feito uma jaca podre no meio do
asfalto - aumentando a minha fama de estabanada e pobre.
Falando em trabalho, após um dia bem desgastante, voltando
da empresa com uma amiga, eu, frustrada, reclamando e chorando, ganho uma prova
irrefutável de que tudo que está ruim pode piorar: uma cagada de pombo, às oito
da noite, no olho. Ainda tinha uma hora de caminho até chegar em casa.
Com tantos pequenos revezes no currículo, a gente vai
aprendendo aos poucos a lidar com as frustrações: aquelas férias na praia que
chove 24 horas, aquele dia que você está com pressa e todos os sinais estão
fechados, aquele pé na bunda dolorido que você tomou, uma demissão inesperada,
uma gripe que te derruba no dia do seu aniversário, um voo que você perde, um
pneu que fura no meio da estrada, uma roupa que você suja bem na hora de sair
de casa, aquele corte entre os dedos numa folha de papel, a água quente do
chuveiro que não está funcionando em pleno inverno.
Durante anos achei que tivesse alguma coisa errada comigo e essa minha relação íntima com Murphy. Mas não tinha absolutamente nada de errado. Era o universo me preparando para uma sorte ainda maior que ganhar na mega-sena: você.
Durante anos achei que tivesse alguma coisa errada comigo e essa minha relação íntima com Murphy. Mas não tinha absolutamente nada de errado. Era o universo me preparando para uma sorte ainda maior que ganhar na mega-sena: você.
Por Paola Príncipe
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