O amor na era dos contratos


Vivemos em um mundo cheio de exigências e obrigações. Trabalhe 8 horas por  dia (ou mais), seja educado, saia da casa dos pais antes dos 30, seja saudável, saiba beber socialmente, seja criativo, ganhe dinheiro suficiente para ser respeitado, ame bichos, encontre sua alma gêmea, case, tenha filhos. Não fui eu nem você que inventamos essas máximas, mas a verdade é que – muitas vezes sem perceber – passamos a vida buscando nos encaixar nessas premissas para sermos aceitos no mundo. Nos associamos a pessoas, situações ou lugares por conveniência e nos transformamos em fiscais da própria vida, estabelecendo pré-requisitos para dizer quem fica e quem sai.

A história fica pior quando nos damos conta que colocamos o amor também nesses padrões. Queremos um cara que seja gentil, bem sucedido, que apare os pelos inconvenientes e que não seja um banana e virgem, mas que também não seja um galinha potencial – porque todos eles são até que se prove o contrário. Já eles buscam uma mulher que seja feminina e delicada, mas que não seja uma menininha idiota, que seja simples e fale baixo, seja bonita, mas não chame muita atenção – porque mulher bonita e carismática dá muito problema.

E o erro mora aí. Amor não é como comprar um sofá pela internet. Não tem data de entrega, especificações, nem frete grátis ou parcelamento em 12 vezes sem juros. Não podemos lidar com um sentimento tão forte e incontrolável como uma encomenda planejada. Já vivemos sob pressão suficiente para nos sentirmos aceitos e bem vindos nos mais diversos ambientes e situações. Será que não é hora de sairmos da zona de conforto e viver com menos garantias?

Por que aqueles filmes e seriados dramáticos e românticos, onde a noiva acomodada e infeliz foge no dia do casamento com o melhor amigo, porque ele é o verdadeiro amor da sua vida, te fazem chorar de emoção? Pra onde foram os Romeus e Julietas com suas improváveis e belas histórias de amor? A era dos contratos, onde listamos racionalmente as vantagens e desvantagens, os deveres e prazeres, transformou a forma com que nos relacionamos. Pensamos demais, matutamos demais, “neurotizamos” demais, quando, na verdade, deveríamos apenas sentir demais.

Já pensou que triste se todo mundo seguir essa tendência? Nas livrarias, teremos a seção de romance, mas sem romance, os últimos capítulos das novelas não serão mais recheados de casamentos e finais felizes, e as histórias de bar se resumiriam a apenas futebol e trabalho. Se até Christian Grey esqueceu essa história de contrato, não vai ser você a pessoa que vai manter o amor no papel, certo?

Vale fugir no altar, vale mudar de continente, vale serenata na janela, e vale até um beijo roubado apaixonado no Baixo Gávea. A única cláusula que você precisa garantir é a de ter vivido bons e grandes amores. E não precisa assinar contrato.

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